sábado, 27 de fevereiro de 2016

Viajando na leitura




O Projeto 198 livros de Camila Navarro foi uma dica para a criação de meu blog. Vocês podem observar que lá ela indica vários blogs com a mesma proposta e neste artigo no Janelas Abertas há indicações da mesma ideia fora do Brasil. Na verdade eu já havia tentado por em prática algo semelhante, porém a coisa funcionou de forma assistemática e sem muito compromisso. Tomando o critério adotado por Camila, escolher livros que “representem de alguma forma os aspectos culturais e/ou históricos de um país e que tenham sido escritos por autores locais”, na medida em que eu viajava ia lendo alguns livros dos respectivos países (listados abaixo).
É difícil dizer o quanto a ambientação histórico-cultural de um romance nos diz sobre o lugar visitado. Obviamente, isso dependerá do livro. Pessoalmente tive sorte na escolha de alguns desses livros. Dois exemplos. O livro sobre o Camboja, longe de ser um romance, é um testemunho comovente sobre um período trágico na história do país. Estando lá em 2010 e visitando os Campos de Extermínio e a prisão S21 (o equivalente brutal ao DOPS brasileiro) eu pude perceber toda a força dos relatos de pessoas que experimentaram o terror quando crianças, mas sobreviveram para contar a história. Na minha história pessoal a visita ao Camboja foi uma oportunidade para refletir, mais uma vez, sobre como, num determinado momento de minha juventude, eu pude defender tais sistemas políticos. 
Prisão S21
Campo de extermínio

Em minha viagem ao Uruguai em 2013 eu tentei visitar alguns lugares descritos  em A trégua de Mário Benedetti. Cafés, praças e edifícios públicos em Montevidéu por onde passavam os personagens me faziam rememorar o livro e experimentar a sensação de já conhecer um pouco melhor aqueles ambientes. Cheguei a tirar uma foto da esquina 25 de Mayo com Misiones onde fica o café Las Misiones no qual Martín Santomé havia se declarado a Laura Avellaneda!
 “Ela estava ali, indefesa, ou melhor, defendida por mim contra mim mesmo.”
Só depois da viagem eu soube que os livros de Benedetti são muito apreciados pela descrição da parte velha de Montevidéu  inspirando a criação da Guia Benedetti.
Eu concluiria com uma sugestão. Se você gosta dessa ideia, mas não pode ou não gosta de viajar para fora do Brasil, por que não ler livros ambientados em cada estado brasileiro? O problema do idioma ficará para trás e conseguir os livros será muito mais fácil. A dificuldade talvez seja estabelecer critérios para escolher livros cujos estados sejam abundantes em autores consagrados. Que tal?
Fato curioso: os blogs que embarcaram na ideia de Camila (veja o item “O projeto ganhou asas!” em sua página) foram idealizados apenas por mulheres! No artigo do Janelas Abertas só aparece um homem (John Brookes)!
E eu tenho a impressão que eu não vou alterar essa estatística, pois, embora considere uma ideia excelente eu preciso antes resolver essa pendência chamada tsundoku :) 

Minha lista de livros/países:
Cry the beloved country – Alan Paton (África do Sul)
Man alone – John Mulgan (Nova Zelândia)
The New Zealanders – Maurice Shadbolt (Nova Zelândia)
Português suave – Margarida Rebelo Pinto (Portugal)
Children of Cambodia's Killing Fields: Memoirs by Survivors -  Dith Pran (org.) (Camboja)
Burmese days –  George Orwell (Myanmar)
Voci – Dacia Maraini (Itália)
A trégua – Mario Benedetti (Uruguai)
La aventura de Miguel Littín clandestino em Chile - Gabriel García Márquez (Chile)
Viagem ao crepúsculo - Samarone Lima (Cuba)

2 comentários:

Camila Navarro disse...

Boa sorte com o novo blog, Adelino! E boas leituras para nós! Um abraço! =)

Adelino Montenegro disse...

Obrigado Camila! Boas leituras e boas viagens para nós!

Postar um comentário